Treinamento operador de ponte rolante

Qual a carga horária para treinamento de operador de ponte rolante?

Esse questionamento é muito debatido nas organizações que possuem ponte rolante aplicada nas operações de guindar. Com relação ao embasamento legal, as referências para as atividades de movimentação de carga são descritas nas NRs 11,12,18 e 34.

Verifica-se apenas que há uma boa referência na NR 11 para operador de ponte rolante utilizada para armazenagem e manuseio de chapas de mármore, granito e outras rochas, apresentado no anexo I. As informações apresentadas não são claras com relação a capacitação contendo o conteúdo programático, quantidade de participantes para parte teórica e prática, carga horária, reciclagem e demais requisitos importantes para a atividade.

Assim, muitas organizações acabam confundindo-se e adotando os requisitos apresentados pela NR 11 voltado a operação de chapas de mármore, granito e outras rochas e o operador de ponte rolante acaba sendo capacitado incorretamente.

Podemos utilizar como início de uma metodologia, os requisitos apresentados na NR 12 referente a capacitação de Operador de ponte rolante.

Como apresentado na NR12:

Profissional capacitado é aquele que recebeu capacitação sob orientação e responsabilidade de profissional habilitado;

Profissional habilitado é um trabalhador previamente qualificado e com registro no competente conselho de classe;

Trabalhador qualificado aquele que comprove conclusão de curso específico na sua área de atuação e reconhecido pelo sistema oficial de ensino.

Conteúdo programático para Operador de ponte rolante:

“O conteúdo programático da capacitação para reciclagem deve atender às necessidades da situação que a motivou, com carga horária mínima que garanta aos trabalhadores executarem suas atividades com segurança, sendo distribuída em no máximo oito horas diárias e realizada durante o horário normal de trabalho.”

Metodologia para avaliação do treinamento de Operador de ponte rolante:

A capacitação para operação segura de máquinas deve abranger as etapas teórica e prática.

  1. a) ocorrer antes que o trabalhador assuma a sua função;
  2. b) ser realizada sem ônus para o trabalhador;
  3. c) ter carga horária mínima que garanta aos trabalhadores executarem suas atividades com segurança, sendo distribuída em no máximo oito horas diárias e realizada durante o horário normal de trabalho;
  4. d) ter conteúdo programático conforme o estabelecido no Anexo II desta Norma; e
  5. e) ser ministrada por trabalhadores ou profissionais qualificados para este fim, com supervisão de profissional legalmente habilitado que se responsabilizará pela adequação do conteúdo, forma, carga horária, qualificação dos instrutores e avaliação dos capacitados.

Reciclagem para treinamento de Operador de ponte rolante:

“Deve ser realizada capacitação para reciclagem do trabalhador sempre que ocorrerem modificações significativas nas instalações e na operação de máquinas ou troca de métodos, processos e organização do trabalho.”

Dicas de como elaborar um programa robusto e adequado para capacitação de operadores de ponte rolante:

1) Procedimento operacional adequado

Um procedimento operacional raiz das operações de movimentação de carga é o início de um programa robusto para capacitação do operador de ponte rolante. O procedimento deve ser estruturado pelos equipamentos presentes na empresa, abordando a distinção dos tipos de operação (rotineira e não rotineira), assim como definir requisitos de operação segura, indicando o que espera dos profissionais e como os mesmos devem operar os equipamentos.

O procedimento deve apresentar também os conceitos a serem abordados nos treinamentos dos operadores de acordo com o nível de graduação dos mesmos, como por exemplo:

Atividade 01) Um operador de ponte rolante que transporta cargas dentro de uma manutenção mecânica, realiza a operação apenas de motores elétricos que apresentam um olhal na parte superior (chamado de ponto de ancoragem). Essa operação é classificada como rotineira e não há necessidade de elaboração de Planos de Carga.

Atividade 02) Um operador de ponte rolante do setor da manutenção, irá realizar a manutenção de uma peça dentro da fábrica, porém a mesma não apresenta pontos de ancoragem e sua amarração deverá ser realizada com os materiais disponíveis. Essa operação é classificada como crítica e há necessidade de elaboração de Planos de Carga.

02) Capacitação e graduação dos operadores:

As empresas devem realizar a distinção dos tipos de operadores que realizam a operação de ponte rolante baseados em requisitos técnicos como: tempo de operação do equipamento (quantos anos aquele operador tem prática naquele equipamento), tipo de equipamento a ser operado, características da operação, dentre outros fatores, como exemplo:

Operador Nível I – Operador de ponte rolante que iniciou as atividades na empresa, realizou o treinamento de Operador de Ponte Rolante ao entrar na empresa e será acompanhado por 12 meses por um profissional Nível II, avaliando mensalmente o desenvolvimento de seu trabalho.

Esse operador está apto a realizar operações rotineiras com pontes rolantes e talhas com capacidade de até 10t e não poderá realizar operações críticas, apenas operações rotineiras.

Operador Nível II – Operador de ponte rolante com mais de um ano de operação do equipamento sem constatar nenhum incidente operacional. Operador de Ponte Rolante será acompanhado por 12 meses por um profissional Nível III, avaliando mensalmente o desenvolvimento de seu trabalho.

Esse operador está apto a realizar operações rotineiras com pontes rolantes e talhas com capacidade de até 20t e não poderá realizar operações críticas, apenas operações rotineiras.

Operador Nível III – Operador de ponte rolante com mais de dois anos de operação do equipamento sem constatar nenhum incidente operacional. Operador de Ponte Rolante será avaliado a cada 6 meses por um supervisor técnico.

Esse operador está apto a realizar operações rotineiras e não rotineiras com pontes rolantes e talhas com capacidade de até 100t e poderá realizar operações críticas.

3) Conteúdo programático e carga horária para Operador de ponte rolante

Os treinamentos mais eficazes para os operadores de ponte rolante estão relacionados as atividades que o mesmo está acostumado. Dessa forma é muito importante os instrutores conhecerem previamente a operação e realizarem avaliações pontuais em campo nas operações, fazendo assim um treinamento personalizado para cada operador.

O conteúdo programático adequado para operador de ponte rolante está bem descrito na ABNT NBR 15466 – Qualificação e certificação de operadores de ponte rolante, pórtico e semi-pórtico. Essa norma oferece também uma excelente metodologia para avaliação prática dos operadores.

Como referência de carga horária, Gustavo Cassiolato sugere a seguinte carga horária para os profissionais:

Nível I: 4:00 horas teórica + 4:00 horas prática

Nível II: 8:00 horas teórica + 4:00 horas prática

Nível II: 16:00 horas teórica + 8:00 horas prática

4) Avaliação do Operador de ponte rolante

Normalmente, os instrutores de treinamentos convencionais de NR 11, solicitam aos operadores realizarem um percurso com a carga suspensa sinalizado através de cones e tirar o balanço da carga, utilizando apenas essa metodologia para avaliação dos profissionais.

Dessa forma sua aprovação não aborda itens extremamente necessários como a percepção de riscos antes, durante e após a operação do equipamento, preparação da carga, amarração da carga, considerações sobre a velocidade do equipamento, preenchimento correto de check list, armazenagem da carga, dentre outros.

Assim, criar uma metodologia para avaliação teórica e prática, assim como requisitos para graduação e auditorias periódicas é necessário para garantir a correta aplicação do treinamento.

5) Instrutores habilitados

A realização de um treinamento operacional eficaz está relacionado a metodologia abordada e a capacidade do instrutor transmitir o conteúdo ao aluno.

Dessa forma, os instrutores devem ter proficiência no assunto, oferecendo ao operador a cada treinamento, oportunidade de novos conhecimentos, garantindo sua evolução técnica.

6) Reciclagem periódica do Operador de ponte rolante

A reciclagem periódica dos operadores de ponte rolante é essencial para evitar vícios na utilização dos equipamentos.

De acordo com Gustavo Cassiolato, a reciclagem periódica pode ser realizada utilizando como exemplo o seguinte conceito:

Anualmente, realizada através apenas do treinamento prático de 2:00 horas com as operações habituais dos operadores de ponte rolante que não apresentaram incidentes ou acidentes na operação no período avaliado;

Anualmente, realizada através de treinamento completo (teórico e prático conforme carga horária para cada graduação)  com operadores que apresentaram incidentes ou acidentes na operação no período avaliado;

Bi-anual, realizada através apenas do treinamento completo (teórico e prático conforme carga horária para cada graduação) operadores de ponte rolante que não apresentaram incidentes ou acidentes na operação no período avaliado.

07) Capacitação dos supervisores

Sabemos que os cursos para técnicos de segurança do trabalho e engenheiros de segurança do trabalho não aprofundam o conhecimento sobre atividades de movimentação de carga.

Assim, torna-se necessária a capacitação desses profissionais para conseguir acompanhar as atividades de movimentação de carga a fim de identificar os perigos e riscos inerentes a cada operação, avaliando as  técnicas utilizadas pelos operadores para realização das atividades, propondo medidas para melhoria contínua dos processos.

Assim, as empresas utilizando uma metodologia própria para capacitação dos operadores de ponte rolante é necessária, visto a falta de abordagem específicas nas normas regulamentadoras. Vale a pena os profissionais de segurança do trabalho realizarem sua capacitação para avaliação dos perigos e riscos inerentes as atividades pois um acidente envolvendo movimentação de carga pode gerar grandes desastres, perdas humanas e demais perdas materiais.

O conhecimento da norma técnica ABNT NBR 15466 – Qualificação e certificação de operadores de ponte rolante, pórtico e semi-pórtico é uma grande fonte de referência para a estruturação do programa, assim como demais livros técnicos do assunto.