Segurança na Amarração de Cargas

Apresentamos abaixo matéria exclusiva elaborada pelo departamento de engenharia da Rigging Brasil referente a amarração de cargas em modal rodoviário apresentada na revista CIPA – Julho 2018.

Através da matéria, são apresentadas as ferramentas para garantir a segurança na amarração de cargas e quais fatores devem ser avaliados para garantir uma amarração eficiente e dentro dos padrões normativos, conforme últimas alterações apresentadas pelo CONTRAN.

Confira matéria: Segurança na amarração de cargas

Para conhecer os serviços da Rigging Brasil referente a amarração de cargas, clique aqui.

Um assunto tem tomado grande discussão no transporte de cargas realizadas através de caminhões. Desde Janeiro de 2018 entrou em vigor a resolução 552 do Contran que apresenta regulamentações para amarração de carga no Brasil.

De forma geral essas diretrizes vão oferecer regras claras de como devem ser amarradas as cargas e como devem ser fabricados e posicionados os pontos de ancoragem para fixação dos elementos de amarração de cargas (cintas de poliéster, lingas de correntes, cabos de aço, etc).

A amarração de cargas deve ser calculada pro um profissional qualificado e não pode ser realizada apenas em cima de conhecimentos práticos do dia-dia, realizados em sua maioria pelos condutores, utilizando recursos e técnicas inadequadas.

Um ponto muito importante que vale muito destaque é o uso de cordas – “Fica proibida a utilização de cordas como dispositivo de amarração de carga, sendo permitido o seu uso exclusivamente para fixação da lona de cobertura, quando exigível.”

Essas regras devem ser adotadas em veículos de carga de uso geral, com Peso Bruto Total superior a 3.500 Kg.

Já existem regras específicas para amarração das seguintes cargas no modal rodoviário aplicadas no Brasil: contêineres, rochas ornamentais, toras de madeira, veículos, produtos siderúrgicos (bobina, lingote, perfil, sucata, tarugo, tubo, vergalhão).

Dessa forma, estabelecer esses padrões de amarração de carga trazem muito mais segurança no transporte rodoviário de cargas, que conforme o boletim da CNT – Janeiro 2018 (Confederação Nacional do Transporte) o transporte rodoviário de cargas representa 61,10% das cargas transportadas no território nacional.

Outro ponto importante a ser destacado, está na responsabilidade de todos envolvidos na amarração de carga, desde os agentes remetentes (clientes) aos nos agentes transportadores (Transportadoras, caminhoneiros autônomos, etc). No caso de acidentes decorrentes da incorreta amarração da carga e não atendimento normativo, estão sujeitos as regras de nossa constituição onde um processo civil e criminal pode ser aberto.

Apresentamos abaixo uma demonstração de um Plano de Amarração de Cargas, apresentando todos os recursos utilizados e métodos a serem aplicados durante a fixação da carga na carroceria e durante o transporte.

Podemos citar como destaque a utilização de redes frontais e traseiras, uma vez que superam a altura do painel frontal e existe a possibilidade da carga deslizar longitudinalmente, podendo projetar diretamente na cabine do caminhão.

Apresentamos abaixo orientações apresentadas pelo Eng Gustavo Cassiolato referente a amarração de cargas:

1) Mitos que devem ser esquecidos

Conceitos de amarração de cargas, normalmente são passados de pai para filho ou no boca a boa, onde muitos mitos acabam sendo utilizados com frequência e devem ser esquecidos a fim de realizar a correta amarração de cargas, dentre eles:

  • “SEMPRE AMARRAREI A CARGA DESSA FORMA E NUNCA TIVE PROBLEMA”
  • ” A CARGA SÓ VAI ALI, NÃO TEM RISCO NO CAMINHO”
  • “A CARGA É PESADA, ASSIM NÃO PRECISA AMARRAR”
  • “SE VOCÊ AMARRAR A CARGA, LEVA O CAMINHÃO”
  • “QUEM TEM QUE CONHECER DE AMARRAÇÃO É O CAMINHONEIRO”

2) Conhecer as forças envolvidas durante o transporte

Para o modal rodoviário, forças provenientes de freadas, arrancadas, curvas, aclives e declives, assim como lombadas devem ser levantadas para estabelecer o valor correto necessário para promover a amarração da carga.

Força proveniente de uma frenagem

Força proveniente de uma arrancada

Força proveniente de uma curva acentuada

Força proveniente de aclives e declives

Força proveniente de inclinação de pistas

Força proveniente da ação do vento

Força proveniente de solavancos

 

O conhecimento sobre a força de atrito atuante entre os materiais a serem transportados e a carroceria do caminhão são extremamente importantes para estabelecer o valor da força estritiva.

Assim, como exemplo, uma carga de aço transportada em cima de uma carroceria de aço deve prover muitos mais recursos de amarração do que uma carga de madeira transportada em uma carroceria de madeira com uma manta de borracha.

Outras forças atuantes na carga devem ser levantadas também como a incidência da força do vento em cargas não vazadas (normalmente são consideráveis em cargas com grandes dimensões) e forças resultantes de inclinação de pista.

 3) Fazer uma correta distribuição de cargas:

 

A correta distribuição/amarração de carga contribui para que a carga transportada não sofra nenhuma avaria e trafegue no modal sem interferências – evitando acidentes que podem ser causados. Outro fator importante que podemos citar é a distribuição correta de peso sobre os eixos do caminhão, adequando o mesmo a trafegar conforme padrão estabelecido nas rodovias – evitando multas e sobretaxas.

A correta distribuição da carga no veículo é fundamental para uma operação segura e econômica, onde pode-se destacar:

  • Melhor estabilidade;
  • Maior aderência;
  • Iluminação adequada;
  • Evitar a sobrecarga nos eixos;
  • Evitar o desgaste prematuro dos pneus, freios, eixos, molas, amortecedores, sistemas de direção;
  • Redução do consumo de combustível.

DISTRIBUIÇÃO DO PESO

O centro de gravidade deve ser tão baixo quanto possível de modo a obter a melhor estabilidade possível quando o veículo trava, acelera ou muda de direção. As mercadorias pesadas, em particular, devem ser colocadas o mais baixo e o mais perto possível do centro da plataforma do veículo.

Distribuição da carga – fonte Arquivo técnico Gustavo Cassiolato

 

 RESISTÊNCIA DA EMBALAGEM

A carga com embalagem pouco resistente é geralmente leve. Por este motivo, as cargas com embalagens mais frágeis podem ser normalmente colocadas nas camadas superiores sem criar problemas de distribuição de peso. Se tal não for possível, a carga deve ser separada em diferentes secções de carga.

 TRAVAMENTO

Utilizando uma combinação adequada de vários tamanhos de embalagens retangulares, é possível obter com facilidade um sistema de travamento satisfatório contra o painel de proteção da cabina, os painéis laterais e o painel traseiro.

 MATERIAL DE ENCHIMENTO

Os espaços vazios que possam resultar das diferenças de tamanho e de forma das unidades de carga devem ser preenchidos a fim de proporcionar sustentação e estabilidade suficientes à carga.

 PALETIZAÇÃO/ UNITIZAÇÃO DE CARGAS

A carga unitizada é um conjunto ou grupo de objetos mantidos como uma unidade de carga em um transporte entre uma origem e um destino.

A adoção de cargas unitizadas é realizada quando peças com as mesmas características ou destino são embaladas em uma unidade a fim de evitar movimentos de transporte, aumentando o trabalho e consequentemente o valor do frete.

As palletes permitem que partes individuais da carga e mercadorias de dimensões e natureza idênticas possam constituir unidades de carga. A carga em palletes pode ser manuseada mais facilmente por meios mecânicos, o que reduz o esforço necessário para a manusear e transportar.

Carga de cimento sem unitização adequada – fonte Arquivo técnico Gustavo Cassiolato

4) Escolher o método de fixação da carga

Fixação Envolvente : onde o objeto é forçado contra o piso do veículo, aumentando sua capacidade restritiva através do aumento da força de atrito entre as superfícies;

Fixação Direta em contenedores específicos, que retém a carga diretamente em suas estruturas, como carroceria basculante, tanque, etc;

Fixação Direta através de bloqueadores da própria carroceria do veículo, como painel dianteiro, painel traseiro e grades laterais;

Fixação Direta através de dispositivos de fixação, como correntes, cabos de aço, cintas de nylon, onde a amarração da carga é feita diretamente na estrutura do veículo ou de sua carroceria.

 

5) Conhecer os equipamentos utilizados no mercado nacional para amarração da carga:

 Conhecer os materiais adequados para amarração de carga como cintas de poliéster, cabos de aço e correntes de aço, sabendo a perda de eficiência dos dispositivos com a utilização de ângulos na amarração, assim como suas particularidades de uso – ergonomia, durabilidade e critérios de inspeção e descarte.

De acordo com a resolução 552 do Contran a resistência total à ruptura por tração dos elementos de amarração de carga deve ser de, no mínimo, duas vezes o peso da carga.

Um fator importante que vale destaque é o ângulo da amarração, uma vez que está diretamente relacionado a sua eficiência. Dessa forma, cargas que ocupam toda largura da carroceria, trabalham com ângulo de 90º e não oferecem redução na capacidade do elemento de amarração.

Vale ressaltar que de acordo com a resolução do Contran, os dispositivos de amarração só poderão ser passados pelo lado externo da carroceria em veículos do tipo carga seca (guardas laterais) quando a carga ocupar totalmente o espaço interno da carroceria.

Cintas de poliéster passando por fora das guardas laterais com carga centralizada (aplicação incorreta) – fonte Arquivo técnico Gustavo Cassiolato

Como exemplo, a utilização de deslizadores na aplicação de cintas de poliéster no método atrito na amarração de cargas oferece distribuição correta de forças aplicadas pela catraca.

Deslizador plástico – fonte Arquivo técnico Gustavo Cassiolato

Outro acessório que pode ser utilizado na aplicação de cintas de poliéster são cantoneiras, que oferecem uma distribuição da força ao longo da carga, principalmente em cargas segregadas onde as cintas não teriam contato direto com a carga.

Cantoneiras de aço aplicadas na parte superior – fonte Arquivo técnico Gustavo Cassiolato

Importância da amarração correta da carga

Os prejuízos caudados pela má distribuição e amarração de cargas incorretas vão desde avarias simples a carga a acidentes de grande magnitude que pode interferir na vida de muitas pessoas que não tem relação alguma no processo.

Classificamos as perdas em 5 critérios:

Perdas materiais – Equipamentos, cargas, edificações e instalações, etc.

Perdas indiretas – Atraso, multas contratuais, lucro cessante, processo jurídico, etc.

Perdas humanas – Vidas, mutilações, invalidez, etc.

Custos legais – Indenizações e ressarcimentos.

Implicações – Ministério do trabalho, Previdência Social, Seguridade Trabalhista, Código Penal.

Transporte de produtos corrosivos utilizando cordas (inadequado) – fonte Arquivo técnico Gustavo Cassiolato

 

Planejamento de amarração de cargas pode reduzir o valor do seguro

 Ao se criar um estudo de como amarrar a carga, levantamos os materiais adequados para promover uma amarração de carga segura, fazendo com que o cliente não tenha nenhum problema na amarração de carga e consequentemente nenhum sinistro.

Esse tipo de trabalho diminui o volume de sinistros assim como a negativação do cliente pelas seguradoras. Além disso tal ação é um indicativo de que a empresa se preocupa com a qualidade do transporte oferecido gerando uma melhor avaliação pelas seguradoras.

Transporte de trator com carroceria e amarração inadequada – fonte Arquivo técnico Gustavo Cassiolato

 

Efetuar amarração de acordo com cada carga transportada

Estabelecer um modelo de amarração de carga para cada tipo de material a ser transportado é essencial para garantir total confiabilidade na amarração realizada. Caso no mesmo transporte tenha mais de uma mercadoria, pode-se utilizar um mix de dispositivos, fazendo com que a estabilidade e a segurança da fixação seja preservada.

Tanques

Para o transporte desse tipo de mercadoria, normalmente utiliza-se tanques e deve-se atentar sempre ao volume ocupado, onde espaços vazios dentro dos tanques podem fazer com que a carga mova-se ao se acelerar, desacelerar ou mudar de direção o veículo. O comportamento dinâmico do veículo é afetado e pode tornar-se instável ao ponto de ficar incontrolável e causar um acidente como, por exemplo, o capotamento do veículo.

Sempre que possível, os tanques devem estar quase totalmente cheios com líquido ou

vazios. Sempre que necessário, devem ser adotadas medidas adicionais para evitar os movimentos das cargas em tanque parcialmente cheios como, por exemplo, a utilização de tanques equipados com divisórias.

Medicamentos

Medicamentos são cargas muito frágeis onde em sua maioria são armazenados em embalagens com maior resistência e preenchidos com materiais específicos como sacos de ar, papéis, isopor, dentre outros. Sendo assim, deve-se promover uma amarração nas embalagens que possuem maior resistência.

 Alimentos sólidos

Segue as mesmas recomendações dos medicamentos porém nas embalagens toda a caixa é preenchida, apresentando a informação da capacidade máxima para empilhamento.

Ainda sofremos com a falta da industrialização do agronegócio, onde frutas e verduras ainda são transportadas soltas dentro de carrocerias. Essa metodologia ultrapassada oferece muitos prejuízos como: perda de mercadorias, excesso de mão de obra no carregamento e descarregamento, ineficiência na logística, etc.

Dessa forma, a utilização de embalagens adequadas oferece uma evolução operacional no segmento, evitando cargas soltas e excesso de manipulação manual.

De forma geral, cargas soltas como melancias, sacos de batatas e cebolas são transportados em carretas com guarda lateral elevada (utilizada para grãos) que já fazem a contenção da carga e a utilização de lonas robustas e cordas tornam-se necessárias para efetuar a fixação superior da carga.

Vidro

Para o transporte de vidro em grande quantidade, proveniente dos fabricantes, os transportadores já utilizam veículos com carrocerias adequadas para tal finalidade, adaptada para garantir o equilíbrio e a estabilidade das peças.

Para pequenas quantidades,dispositivos metálicos são chumbados a carroceria dos caminhões (normalmente pickup´s e van´s) com a utilização de mantas de borracha e feltros para evitarem o contato das peças e aumentarem o atrito entre elas. Deve-se transportar os mesmos em pé com uma inclinação muito pequena.

Mobiliário

Cargas desse tipo normalmente são acomodados dentro de caminhões baús, onde as peças são acondicionadas nos painéis laterais ou frontal e o espaço vazio normalmente é preenchido com materiais a imobilizar a carga como madeiras, sacos infláveis, dentre outros. Isopor e outros materiais são utilizados para evitar o contato de uma peça a outra, evitando riscos e avarias as peças.

“Art. 10. Nos veículos com carroceria inteiramente fechada (furgão carga geral, baú isotérmico, baú frigorífico, etc.), as paredes podem ser consideradas como estrutura de contenção, sendo opcional a existência de pontos de amarração internos.” Conforme norma Contran 552.

 Veículos

Para o transporte de veículos é indicado a utilização de guinchos ou de caminhões cegonheiros – para uma maior quantidade de veículos. Temos a resolução do Contran 305 que informa que os caminhões cegonheiros devem possuir um sistema composto por cintas de amarração porém não especifica as caraterísticas que devem ser adotadas onde vemos muitos casos de materiais inadequados sendo utilizados para fixar os carros nas carrocerias.Estes veículos devem possuir pontos de amarração adequados em termos de número, posição e resistência.

Cargas indivisíveis

Cargas indivisíveis possuem uma particularidade. Cada tipo de carga tem uma dimensão específica e consequentemente um centro de gravidade diferenciado que deve ser levado em consideração para pode analisar a amarração adequada.

Para esse tipo de carga normalmente é acompanhada de um manual de amarração ou de um projeto de amarração de carga, onde o fabricante do equipamento indica a posição adequada e os dispositivos necessários para garantir o transporte correto do material.

Está a ser regulamentado um curso obrigatório a condutores de veículos de cargas indivisíveis onde um dos temas abordados é a amarração de cargas. Esse curso irá contribuir para uma considerável evolução do conhecimento dos condutores e oferecer maior segurança as operações.

 Carga viva

No caso de carga viva, há uma norma específica no Código de Transito Brasileiro onde estabelece alguns padrões a serem seguidos no transporte, inclusive apresentando recomendações para animais domésticos.

O Código de Trânsito Brasileiro, não permite o transporte de aves, cavalos e bovinos, suínos, ovinos e caprinos em camionetas.

O veiculo deve sempre possuir as devidas ventilações no compartimento do animal, isso em caso de baús e em caso de gaiolas deve cobrir com lonas para evitar chuvas e insolações. Não são executados nenhum tipo de amarração de cargas, porém as medidas adotadas para garantir uma maior estabilidade do animal no veículo são: promover um piso antiderrapante e acondicionar o animal em um local com dimensões próximas as suas para auxiliar o escoramento do mesmo no transporte.

Cargas em Basculantes

As caçambas dos caminhões basculantes normalmente são apoiadas a carroceria do caminhão, porém existem dispositivos laterais de contenção que promovem o travamento da caçamba na carroceria.

Chapas metálicas planas

Quando são transportadas chapas ou folhas laminadas de vários tamanhos, as de menor dimensão devem, normalmente, ser carregadas em cima e na parte da frente do veículo contra o painel de proteção da cabine ou outro dispositivo de travamento, de modo a que não possam oscilar frontalmente.

As chapas metálicas “oleadas” devem ser agrupadas. Para efeitos de condicionamento da carga, estes grupos devem ser tratados como caixas comuns. As chapas planas podem, por vezes, ser carregadas e fixadas nos palletes.

Normalmente a amarração de cargas em chapas metálicas se dá com a utilização de cintas de poliéster pois apresenta maior área de contato com a peça. Deve-se levar em consideração a utilização de luvas de proteção para evitar o contato com o canto vivo das chapas metálicas com as cintas de poliéster. A quantidade e o espaçamento pode variar de acordo com as dimensões e peso das chapas metálicas.

 Tratores e máquinas agrícolas

O Transporte de tratores e máquinas agrícolas pode ser feito através de reboques ou semi-reboques contendo dispositivos para fixação no piso, além de rampa para carga e descarga.

Normalmente os equipamentos possuem uma marcação de onde deve ser executada a amarração da carga, porém normalmente não são utilizados equipamentos específicos para essa finalidade – subdimensionando o sistema.